"Polícia, adjetivo"

"Polícia, adjetivo"

Esta é a tradução do filme romeno que não poderia ser “traduzido” em poucas palavras, como as abaixo.

Simplesmente impressionante, começo assim. Gosto muito dos finais nos filmes, e este provoca. É como se concentrar firmemente em algo e, de repente, levar um susto incrível que o faz acordar daquela lentidão cinematográfica. Mas qual foi o susto?

A questão gira em torno de um policial que evita seu chefe. E evita seu chefe exatamente porque está ele (policial) postergando a prisão de um jovem consumidor de drogas. Tenta ele achar o fornecedor dos entorpecentes, a fim de enquadrar o rapaz naquilo que efetivamente considera como “crime de tráfico”. Sem sucesso.

Mais e mais tentativas. E nisso foi girando a película até se chegar a seu final que, por evidente, não passarei aqui.

Os produtores conseguiram trazer um dilema dos mais espinhosos das Ciências Criminais – e do Direito - em aproximadamente quinze dos últimos minutos. E este é: prender ou não o consumidor, ou seja, aplicar ou não aplicar uma lei “injusta”?

Lá vêm aqueles já dizerem que “justiça” é de proibida menção, pois sua subjetividade a impede. Muito bem, ficamos assim: lei injusta é aquela que, pela inofensividade da conduta que a mesma prevê e pela gravidade da consequência que traz, a cultura humana predominante naquele momento histórico diz “não a aplique”. Certo? Certo.

Discutiu-se que todos os países europeus já haviam liberado o consumo e que ninguém era mais preso por consumir drogas. Só na Romênia ainda é assim. “E daí?”, pergunta o chefe de polícia. “A lei não é a ordem possível que uma sociedade possui?” “Questioná-la não seria o mesmo que termos incertezas e, portanto, o caos?”.

É num momento como este que é lembrada e reiterada a importância da função do Ministério Público e da Polícia: a fiscalização da lei. Da lei em si, pelo que ela é: um comando de ordem que deve ser obedecido. É num momento come este que, inevitavelmente, a figura de Sócrates nos retorna: “seja lá pelo que for, é melhor tomar a cicuta”. Será mesmo?

Abaixo, a sinopse do excelente filme:

“Cristi (Dragos Bucur) é um policial que flagra um jovem vendendo haxixe a um colega de escola. Ele se recusa a prendê-lo, apesar do ato ser punível pela lei local. Cristi acredita que a lei irá mudar em breve e não deseja condenar o futuro do garoto com a prisão. Só que seus superiores não pensam da mesma forma”.

ASSISTA AO TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=5ms5SmaOI_4